Alagoas

ARTES VISUAIS EM ALAGOAS
Viviani Duarte Acioli e Rosivaldo Reis

No século XIX a situação dos pintores em Alagoas era marcada pela falta de reconhecimento público e pela ausência de mercado.

O Liceu das Artes e Ofícios de Alagoas foi fundado em 1884 com a cadeira de “desenho de figuras”. Em agosto de 1908 institui o curso de escultura, quando a escultura era ignorada e não existiam artistas que trabalhavam com escultura. As esculturas que ornavam as praças e fachadas foram quase todas importadas de outras localidades.

Rosalvo Ribeiro foi o principal artista alagoano de século XIX.

No século XX houve a influência dos dois principais movimentos: Modernismo e Regionalismo.

O escritor  Jorge de Lima produziu trabalhos artísticos mais próximos das pesquisas visuais iniciadas pelas vanguardas europeias. Na década de 40, produziu fotomontagens publicadas no livro “A  pintura em Pânico (1943)”, lembrando as fotomontagens do alemão Max Ernest, ensinados nas vertentes do Dadaísmo e do Surrealismo.

Lourenço Peixoto, contemporâneo de Jorge de Lima foi muito importante para o desenvolvimento do cenário artístico local, agitador cultural, incansável na busca de uma profissionalização para o meio artístico alagoano.

O Instituto de Belas artes Rosalvo Ribeiro, em 1925, foi a instituição privada responsável pelo ensino das artes em Maceió e pela agitação cultural causada por eventos, como a “Festa da Arte Nova”. Ao longo dos anos, o Instituto teve vários fechamentos, provocados pelas inúmeras dificuldades.

A partir de 1960, Pierre Chalita passa a exercer papel de destaque na cena artística local, destacando-se também como professor de artes.

A década de 1980, foi marcada pelo aparecimento de grupos, que tinham intenção de criar inovações, aparecendo em 1984 o grupo Vivarte e desbobramentos como o grupo Cruzada Plástica em 1987.

Em 1980 o artista Delson Uchôa participa da mostra “Geração 80- como vai você?”, levando Alagoas para o cenário nacional. Atualmente Delson Uchôa tem destaque nacionalmente e internacionalmente, participando ativamente nesse contexto.

Após a década de 1980, com a intensificação de artistas e movimentos, novas linguagens nas artes visuais são assimiladas. Muitos artistas inicialmente figurativos passaram ao abstracionismo, enquanto outros trabalharam paralelamente as duas linguagens, tanto no interesse de acompanhar a produção contemporânea local quanto no interesse de atender demandas de diferentes mercados. O grande número de trabalhos abstracionistas em Alagoas está relacionado a inclusão de obras de arte na decoração de ambientes “modernos”, através dos arquitetos, gerando a possibilidade de um mercado também para os artistas.

A partir dos anos 1990, pensado na renovação da arte alagoana relacionada a uma postura artística menos submissa a determinação do arquiteto e sem muita preocupação mercadológica, alguns artistas propõem novas expressões, como a instalação, a performance, o grafite, a vídeo arte, a cyber arte entre outras. Inserem-se também nas artes integradas, diminuindo as fronteiras entre os diversos meios de expressão, fazendo as artes visuais dialogar com o teatro, o cinema, a música, a dança e a literatura.

Ao longo dos anos a cena artística alterna momentos de agitação e marasmo, uma das causas é a falta de incentivos públicos à arte local, a ausência de instituições profissionalizantes e instituições culturais dedicadas a arte contemporânea. Muitos artistas precisam “sair” para se conectar aos circuitos artísticos – galerias/bienais/museus nos grandes centros.

Esse relato histórico sinaliza a realidade do século XXI, onde em Alagoas o cenário nas artes visuais ainda é marcado pela ausência de instituições acadêmicas voltadas para essa área, não existe formação e pesquisa acadêmica especifica nas artes visuais. Existe a Escola Técnica das Artes da Universidade Federal de Alagoas UFAL, que oferece cursos de design e figurino mas para a área cênica. E duas instituições privadas oferecem cursos de graduação à distância em artes visuais e especialização, mas não existe uma dinâmica maior nesse sentido.

Alguns equipamentos culturais se adaptaram para abrigar exposições de artes visuais, como o Museu da Imagem e do Som – MISA, o Museu do Palácio Floriano Peixoto – MUPA, o Memorial à República e o Centro de Belas Artes, todos vinculados ao Governo do Estado, oferendo, em algumas ocasiões, editais para os artistas concorrerem ao espaço para ocupação.

Outros equipamentos como a sede do IPHAN, do Governo Federal, também oferece anualmente editais para ocupação.

O Museu Théo Brandão vinculado a Universidade Federal de Alagoas – UFAL, mesmo sendo um espaço voltado para a cultura popular, também oferece editais para ocupação do espaço para exposições de artes visuais, inclusive arte contemporânea.

Atualmente existem duas Galerias Comerciais, a Galeria Karandash e a Galeria Gamma.

O SESC também abriga uma galeria de artes visuais, que movimenta exposições com convidados locais e de fora. A Pinacoteca da Universidade Federal de Alagoas mantém suas atividades anuais com editais que contemplam geralmente quatro exposições selecionadas e duas convidadas.

O antigo Centro Cultural do SESI, que hoje é o Centro Cultural Arte Pajuçara, contempla uma sala de cinema, um teatro e uma Galeria de Artes Visuais, que lançará também a partir desse ano de 2017 editais para ocupação da galeria de Artes Visuais.

Em meio a esse cenário, Alagoas não possui Lei de Incentivo. O Governo Municipal lançou em 2016 o Edital das Artes, contemplando diversos segmentos artísticos. Mas a ausência de uma política mais pontual ainda deixa essa brecha, que dificulta, principalmente a possibilidade de pesquisas mais profundas.

Diversos coletivos vêm sendo construídos principalmente por essa nova geração, com características das artes integradas, onde as artes visuais dialogam com diversas manifestações artísticas.

Em 2014 foi criada a Associação dos Artistas Visuais Profissionais de Alagoas – AVISUAL, com o intuito de agregar e profissionalizar esse segmento, movimentando, nesses dois últimos anos, com exposições coletivas temáticas e intervenções urbanas, gerando uma produção contemporânea, e com projeções de levantar discussões voltadas para a inserção de instituições para a formação acadêmica nas artes visuais.

Nesse cenário existem artistas visuais que mantém essa atividade profissionalmente, exercendo um papel dinâmico, possibilitando um legado. Assim a história da arte em Alagoas precisava ser registrada, pensando nisso, foi criado o Projeto “Canteiros de Obras 1ª edição”, contemplado no Edital das Artes 2015 Prêmio Eris Maximiniano, promovido pela Fundação Municipal de Ação Cultural – FMAC,

visando manter esse registro e utilizá-lo nas escolas como material didático nas aulas de arte. O Projeto “Canteiros de Obras 1ª edição”, registra – na forma de catálogo e documentário – o ateliê de vinte artistas alagoanos, tendo como meta, na segunda edição, contemplar mais vinte artistas e assim sucessivamente.

Os movimentos artísticos estão sinalizando a necessidade de uma expansão e a criação de instituições para formações nas artes visuais, como também a criação de pesquisas nessa área.

A riqueza e diversidade artística em Alagoas necessita de uma fundamentação e o sentimento de pertença deve ser aguçado, pois a autoestima pode acelerar o desenvolvimento nessa área.