Ceará

O CIRCUITO DAS ARTES VISUAIS NO CEARÁ: A ARIDEZ DE UMA PAISAGEM E OS AGRUPAMENTOS ARTÍSTICOS COMO OÁSIS
Mariana Smith

O Ceará é um estado de grande aridez, entre um sertão acometido por secas e um litoral intenso, de muitos ventos e mar bravio. Um estado que demorou a ser ocupado pelos colonizadores por sua adversidade geográfica e pela resistência dos índios bravos, que habitavam a região. A capital que surge como uma cidade-oásis em meio às dunas que tomavam o lugar se estabelece a partir de um forte, criado para marcar uma ocupação, que por muitas vezes se viu em ruínas, pord esistências, fugas e disputas de território entre índios, holandeses e portugueses. O Siará Grande, como foi conhecido por muitos anos, recebeu seu nome em alusão a semelhança de sua paisagem à essa do deserto ao norte da África. Assim como este, o Siará Grande sempre foi habitado essencialmente por povos nômades, que no território árido se locomoviam em busca de meios de existir, e resistir.

Conhecidos como os nômades brasileiros os cearenses se espalharam pelo país em fugas das secas, da aridez, mas também como desbravadores atraídos pelo desconhecido e pelo distante, que se anuncia em iminência ao além mar. Fortaleza, a capital litorânea, se fixa como entreposto de navegações entre as capitais mais prósperas que a avizinham; lugar de naufrágios e dragões do mar, é banhada pelas águas mornas vindas do equador, sendo a capital brasileira mais próxima da Europa, ao 4º grau do hemisfério sul. Pelo litoral as dunas e falésias delimitam as bordas, enquanto ao adentrar o interior três serras e alguns poucos montes brotam da planície em grande parte árida, que tem alívio em açudes construídos e em alguns poucos rios perenes que são como canal do vento vindo do mar.

Essa paisagem parece se refletir nos homens: existir ali é resistir. E é assim, em reflexo dessa paisagem que, de alguma forma, se configura o cenário das artes visuais no Ceará e especialmente em Fortaleza. Em meio uma grande aridez geográfica e cultural, a dificuldade de produzir sempre fez com que os artistas, assim como os nômades ancestrais e os sertanejos fossem tomados pelo desejo de partir em busca de terras mais férteis e oásis culturais, sempre cantando as saudades dessa terra, que aproxima os desgarrados pelo mundo, como judeus em uma diáspora artística. Esses encontros são oásis nômades de uma paisagem que se reflete nos corpos à deriva da aridez. Desse nomadismo os repentistas contadores de causo ganharam lugar, pois no seu contar cantado as histórias ganham mundo, e os personagens fantásticos e reais ganham figura em xilogravura nos cordéis, livretos comentadores do mundo, que colaboraram para a difusão do fazer gravurista do sertão.

Em cada geração particularidades dessa resistência foi se estabelecendo como forma de conseguir permanecer ou não se perder, em tempos que as distâncias se faziam maiores e partir era como romper um fio que as comunicações ainda não tencionavam. Foi assim que nos anos 40 um grupo de artistas criou a Scap (Sociedade Cearense de Artes Plásticas), dele faziam parte Raimundo Cela, Antônio Bandeira, Aldemir Martins, Inimá de Paula, Estrigas (Nilo Firmeza), Nice Firmeza, Sérvulo Esmeraldo, Mário Baratta e Jean-Pierre Chabloz (suíço imigrado durante a II Guerra mundial). O grupo autônomo, que se reunia na casa de Estrigas, que mais tarde se tornaria o Minimuseu Firmeza, ministrava cursos e trocavam experiências de produção. Mário Baratta cria em 1940 o CCBA (Centro Cultural de Belas Artes), primeira instituição voltada para as artes visuais da cidade, e em 1943 funda o Salão de Abril (hoje o mais antigo salão de artes em atividade do país), que ganha força em seguida com a participação dos membros da Scap.

Muitos dos artistas em algum momento tiveram de sair do estado para seguir com estudos ou promovendo a circulação de sua obra. O artista Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) , por exemplo viveu em São Paulo nos anos 50, realizando uma exposição individual no MAM-SP (1957) e em seguida, na década de 60, estudando em Paris, integra o movimento de arte cinética em que realizou os Excitáveis, trabalhos que ganhavam movimento por energia estática, série precursora em possibilidades instalativas. Já o artista Chico da Silva, viveu em paralelo ao grupo da Scap produzindo, até próximo ao fim da década de 70, pinturas de seres fantásticos no Pirambu, periferia de Fortaleza ocupada principalmente pelos imigrantes das secas do interior. Ficando conhecido por Chabloz por conta de seus murais na cidade, participou de uma série de mostras no exterior durante a década de 60.

O MAUC (Museu de Arte da Universidade – UFC), teve um papel muito importante como estimulante da produção artística da cidade até os anos 90. Com um espaço bastante extenso, foi responsável por apresentar os trabalhos produzidos em mostras e exposições, assim como por abrigar durante muitos anos o Salão de Abril. Hoje o MAUC guarda em sua reserva técnica um recorte considerável desse período da história da arte cearense. Pelo entorno do MAUC artistas se encontravam e outros divulgavam sua produção, como Nogueira, pintor de temas populares que tinha o pátio da Universidade como seu segundo ateliê. Entretanto é a xilogravura uma das principais vertentes da produção em artes visuais no estado, as primeiras referencias de uma produção artística da xilogravura surgem a partir da década de 1940, de maneira autodidata, como nos apresenta o professor e gravurista Sebastião de Paula em sua tese de doutorado. Segundo De Paula o ensino da xilogravura em Fortaleza, bem como sua produção em torno de clubes só se inicia a partir da década de 60. No entanto é em 1980, quando o MAUC implementa um ateliê onde são ministrados cursos de xilo e litogravura, que a produção entorno das técnicas ganham corpo, propiciando o surgimento e encontro de artistas no Museu, o que leva a uma novo momento o cenário das artes visuais na cidade (2014, p.126).Em seguida surgem na década de 90 novos ateliês para produção e ensino da gravura, como os dos artistas Eduardo Eloy e Abelardo Brandão.

Há também nesse período um crescente entusiasmo com a fotografia, entorno da família Albano nos sítios da Sabiaguaba e dos muitos viajantes que escolheram o Ceará, terra da luz, como moradia. A fotografia produzida nesse período, no entanto, não se atrela tanto a uma investigação artística, no sentido mais formal ou constitutivo de uma poética, funcionando mais como uma construção entorno dos costumes, cultura popular e paisagens. Junto à fotografia a produção em cinema, ganha impulso na cidade a partir dos anos de 1970 com a criação da Casa Amarela Eusélio Oliveira, equipamento da Universidade Federal voltado para cursos na área cinema e fotografia, que além de abrigar uma sala de exibição cineclubista, assim como o MAUC para os gravuristas e pintores, serviu de um importante ponto de encontro. No entanto, a produção artística local entorno desses equipamentos e na cidade em geral ainda tinha nos temas sertanejos, de pescadores e da paisagem o imaginário principal sob o qual se constituía.

Entre as décadas de 70, 80 e 90 partir passou a ser o único caminho para grande parte dos artistas locais, visto que a cidade não contava com um curso superior ou qualquer tipo de formação continuada em artes, além da ausência de espaços outros para a circulação de produção e pensamento em torno de uma produção artística na cidade. Dessa forma uma série de artistas acabam deixando a cidade, dentre eles Eduardo Frota, Leticia Parente, Leonilson, José Tarcísio, e muitos outros. Por muito tempo essa falta balizou o que poderia ser um circuito de artes de Fortaleza, isolados pela distância de outras capitais mais próximas, em um momento em que a internet ainda não havia surgido, viajar era a única forma de conhecer algo que não chegava até ali, e então a faceta de judeu errante do cearense que do sertão fugia da seca, bem se aplicou aos artistas da capital.

Ao tempo que Fortaleza transitava sem referentes próprios, buscando algum tipo de tradição na cultura do sertão, a região caririense seguia com uma pulsação artística entorno das tradições  culturais de maneira mais fervilhante. A região fértil entorno da Chapada do Araripe, foi em outras épocas oásis escolhido pelos povos nômades e guerreiros que habitavam a região por volta de 1600 por relatos viajantes que temos, mas que provavelmente data de centenas de anos antes. Como local de habitação antiga e de povo tinhoso, as culturas locais resistiram às adversidades do tempo, guardando uma série de costumes em festas populares como reisados e brincadeiras, músicas cabaceiras e artes manuais como esculturas de barro, talhadas em madeira, a tradição da xilogravura e do verso cantado em tradição oral. O cordel como forma de multiplicação da oralidade e visualidade dos causos e narrativas, em universos míticos e discussões político-religiosas foi amplamente produzido na Tipografia São Francisco até meados da década de 70, em seguida tornando-se a conhecida Lira Nordestina que reuniu ao seu entorno uma série de artistas da xilogravura da região. A Lira, como era conhecida, se manteve em atividade até recentemente com apoio da universidade e programas do governo federal de fomento a cultura popular. A produção caririense, no entanto, merece um texto próprio visto a distância e diferença cultural da capital do estado do Ceará, se configurando como uma região de mescla de culturais locais bastante ativa e peculiar.

Os anos 2000, quando as referências se desfazem
Já na década de 80, e especialmente a partir dos anos 90, a cena artística de Fortaleza passa a se libertar um pouco dos temas da cultura popular, e de maneira diluída começa a surgir uma cena musical e de encontro de artistas em meio a alguns espaços autônomos que funcionavam como ateliês, casas de festas e apresentações. Na praia de Iracema próximo às obras do futuro Centro Dragão do Mar, haviam o Teatro da Boca Rica, o Domínio Público, e o Peixe Frito, ateliê do artista Marcelo Santiago que a noite  era transformado em bar para abrigar shows, esquetes de teatro, festas, algumas exposições e experimentações com projeção de super8mm. Nessa época, alguns artistas que haviam partido nos anos anteriores voltam à Fortaleza e mantêm seus ateliês em funcionamento, não de fato de forma aberta, como espaço de encontro, mas em certos casos abrigando cursos e em outros experimentos produtivos. Uma experiência peculiar acontece no ateliê/oficina do artista Eduardo Frota, que retorna para Fortaleza  no início dos anos 90 para viabilizar a produção de obras de grande escala, para tanto o artista monta um ateliê em que mantém um sistema de trabalho subversivo de toda a lógica de produtividade e do trabalho alienado, fazendo dali um lugar de discussão e pensamento junto à equipe de 12 a 20 pessoas com quem trabalhava.(FROTA, 2014 p.189).

Com a surgimento do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em 1999, a cena artística começa a abrir-se a novas perspectivas,o Centro Cultural além de ter um Museu de Arte Contemporânea (MAC-CE), que nesse momento ainda não havia entendido a que vinha, passa a promover cursos de formação em artes visuais, trazendo importantes professores e curadores da cena nacional para a cidade. Porém o maior responsável por uma real transformação na cena artística da cidade é, nesse momento,o  surgimento do Alpendre, casa de arte pesquisa e produção, também em 1999. O Alpendre foi um espaço idealizado por um grupo de amigos que atuavam em diversas frentes da produção artística e cultural, que na maioria já haviam feito formações fora e tinham, por diversos motivos, voltado à cidade. Todos entendiam a tamanha importância de um espaço como ativador de relações, conversas, apresentações e formação. O ativador da concretização do projeto, antes utópico, Alexandre Veras vinha com pesquisa e produção mais voltada para o cinema e a experimentação audiovisual, Andréia Bardawil para a dança contemporânea, Eduardo Frota para as artes visuais, Manoel Ricardo de Lima para a poesia, Solon Ribeiro para a fotografia e assim por diante. Lá foi montada uma biblioteca de consulta pública com volumes de todas as áreas das artes e ciências humanas, uma sala de ensaios, uma videoteca, uma ilha de edição, salas de aula, cineclube, galeria e café.

Para inaugurar, ao lado do novo centro cultural do Estado, o Alpendre fez uma vaquinha entre colaboradores, que passaram a frequentar diariamente o espaço em mostras de vídeo experimental, exposições, aulas, lançamentos de livros, mostras e grupo de estudos que aconteciam lá. O grupo de estudos em artes visuais com tutoria do artista Eduardo Frota foi responsável pela primeira formação de muitos artistas da geração dos anos 2000 da cidade, foi também onde os artistas passaram a se conhecer e se encontrar regularmente. Em 2001 o Alpendre ganhou o edital Petrobrás para as Artes Visuais, proporcionando a vinda de uma série de artistas e pesquisadores de outras cidades do país para a realização oficinas, workshops e palestras, que transformaram definitivamente o cenário da arte contemporânea de Fortaleza. Logo em seguida surgem as primeiras graduações em artes visuais, inicialmente universidade Gama Filho, com coordenação do artista e pesquisador Solon Ribeiro e, em seguida, o curso no Instituto Federal de Educação e Tecnologia (IFET).

Ainda nos primeiros anos da década o grupo Transição Listrada começa a realizar seus primeiros trabalhos, formado por Vitor César, Renan e Rodrigo Lima, o grupo se propunha a pensar os fluxos urbanos e as relações estabelecidas no tecido urbano. Participantes do grupo de estudos do Alpendre, incitaram uma série de ocupações coletivas em espaços públicos, além de gerirem a BASE, espaço  de encontros, expositivo e atelier do grupo que funcionou entre os anos de 2002 e 2005. O grupo em diversas ações convidava e recebia outros artistas fosse para ocupar a BASE, fosse para intervir no espaço urbano.

Nesse período o MAC-CE passa a desenvolver um papel importantíssimo no circuito de arte local, pois, sob curadoria de Luiza Interlenghi, o museu abre as portas aos jovens artistas da cidade a partir de duas ações: o projeto Fala de Artista, em que a curadora propôs realizar um mapeamento da produção de artes visuais da cidade a partir de uma espécie de seminário, em que os artistas da cidade apresentaram sua pesquisa em uma fala aberta ao público – que se fez como um projeto essencial para a consolidação do circuito de artes na cidade, especialmente porque fez com que os próprios artistas conhecessem a produção uns dos outros. Assim como as duas edições da exposição intitulada Experimental I e II sob sua curadoria, que deu a oportunidade para muitos dos artistas da cidade expor pela primeira vez em um museu ou galeria. Nesse período também aconteciam algumas ocupações de outros espaços públicos da cidade, como foi o caso do Projeto Porão, com suas madrugadas experimentais às sextas-feiras à partir da meia noite no porão do Teatro José de Alencar, localizado no centro da cidade.

A cena nessa primeira década dos anos 2000 ganhou fôlego entre ateliês, casas e projetos pontuais que passaram a ser local de encontro e a abrigar experimentações visuais e propostas coletivas.Dentre eles o projeto a Desgraça da lebre, que uma vez por mês agregava no Alpendre novas experimentações visuais e corporais; os eventos no  atelier do artista e músico Narcélio Grud na Praia de Iracema, a Casa 17 no Mercado dos Pinhões, mantida por mim e LeOM junto com as ações do projeto Soluções versáteis para o mundo moderno de Ticiano e Thais Monteiro e também como local de articulação de algumas propostas do Grupo grupo, que agregava uma série de artistas para a realização de ações e intervenções de cunho político na cidade. Também, paralelamente, a casa-ateliê do Coletivo Curto Circuito, coletivo de  formação transitória proposto por Davi da Paz e Naiana Cabral, inicialmente, agregando um ou outro participante a cada projeto, a casa por algum tempo abria as portas para eventos de performance, experimentações visuais e musicais.

Em 2005 o crítico e curador Ricardo Resende assume o comando do MAC-CE, instaurando ali uma espécie de lugar de tensionamento de questões e proposições, aprofundando o trabalho iniciado por Luiza na gestão anterior. Nos projetos Chá com Porradas e Artista Invasor, conversas calorosas e intervenções na instituição trouxeram um vigor ao museu, que nesse momento era lugar de encontro, formação e trocas entre os artistas da cidade, também nesse período a instituição se consolidou com o fortalecimento de seu acervo em arte contemporânea e com a abertura da biblioteca pública Leonilson de artes visuais. O Centro Cultural Banco do Nordeste, também passa a se voltar mais para a produção de arte contemporânea local contemplando através de edital uma série de exposições bem importantes para a cidade. Com o surgimento da Vila das Artes, equipamento cultural da prefeitura, e especialmente do curso de Formação em Audiovisual ali proposto, uma produção experimental em vídeo passa a ganhar mais adeptos, junto com uma crescente produção cinematográfica, que se consolida dois anos após com o surgimento da graduação em Cinema e Audiovisual na UFC (2009). Os cursos também, e mais uma vez, se fazem especialmente como locais de encontro e fomentadores de propostas coletivas.

Em 2007 surge a Alumbramento, coletivo que se propunha inicialmente a realizar filmes, experimentações visuais e intervir na cidade, desenvolvendo uma série de projetos coletivos e experimentais. Também é nesse período do grupo Acidum, voltado para uma produção de grafite e formado pelos artistas Robézio Marqs, Leo Bdss, Henrique Viudez e Rafael Limaverde, passa a propor uma série de intervenções e ações na cidade. As primeiras turmas dos cursos superiores se formam e artistas como Waléria Américo, Yuri Firmeza, Marina de Botas, Vitor Cesar, Ticiano Monteiro, Jared Domício, Milena Travassos dentre outros, têm sua produção em circulação no cenário nacional de arte contemporânea. Nesse momento o Salão de Sobral, na cidade de Sobral à oeste do estado, tem importante papel na apresentação da produção contemporânea local, ao contrário do Salão de Abril da capital que, até então, parecia completamente amarrado a um formato falido e antiquado de seleção, até passar por uma grande revisão de formato em 2007 que, dentre outras coisas, o torna aberto a seleção nacional.

Com a saída de Ricardo Resende, o MAC perde sua ênfase de atuação junto aos artistas locais, o que coincide a mais um período de baixa renovação na produção de artes visuais na cidade. Em 2011 a Vila das Artes passa a abrigar o CAV (Centro de Artes Visuais de Fortaleza) que, em parceria com o CCBNB, traz como proposta dois grupos de formação e acompanhamento de produção, envolvendo uma série de artistas da cidade. Ainda em 2011 o Alpendre fecha suas portas definitivamente e surge o Dança no Andar de Cima, espaço autônomo que se fez como principal ponto de encontro e trocas em artes visuais até 2014, funcionando como importante espaço de experimentações, oficinas, exposições e eventos das mais diversas ordens, mantido pela produtora cultural Ana Cláudia Araújo, e pelo/as artistas Henrique Viudez, Simone Barreto, Marina de Botas e Bruna Bezerra. Em parceria com o CCBNB em 2013 o Dança abrigou o Laboratório de Artes Visuais, como espaço de formação.

Durante os últimos quatro anos o Centro Dragão do Mar vem mantendo um programa de produção e acompanhamento junto ao Museu de Arte Contemporânea, para o qual seleciona 4 a 5 artistas bolsistas por edição, para ter um projeto acompanhado durante um semestre por um tutor, e para o qual, em edições anteriores, foram realizadas exposições individuais, no entanto o projeto vem perdendo forças a cada edição. Também em 2016 o importante espaço expositivo mantido pelo CCBNB em Fortaleza teve a direção destituída e provavelmente não manterá suas atividades de formação e agenda de exposições. Com pouquíssimos espaços voltados para exposições de artistas locais, salvo os dois museus do Centro Dragão do Mar que selecionam por meio de edital três exposições por ano, Fortaleza vive um momento delicado na produção artística. O Salão das Ilusões, localizado no edifício Dona Bela, no centro da cidade é atualmente o principal  espaço de experimentações e exposições independentes da cidade, junto do A Casa da Esquina, mantida pelo grupo de teatro Bagaceira.

Como em outras cidades médias do país a produção e a formação local se mantém a mercê dos governos, que possibilitam projetos e fomentos, variando a cada gestão governamental. A cena artística segue assim constantemente em movimentos de altos e baixos conforme os espaços autônomos conseguem ter forças para se manterem em meio as incertezas de financiamentos e projetos. A falta de um curso superior em Artes Visuais na Universidade Federal do Ceará torna esse cenário ainda mais instável, pois sem uma formação continuada com os meios e recursos que a Universidade ainda consegue resguardar abrir espaços sociais parece ainda mais difícil ali. A sensação que temos em Fortaleza é que, dada a fragilidade do sistema das artes, com um vendaval, típico dos que temos por aqui, tudo pode desaparecer e então voltaremos a antiga paisagem erma sob a qual o Siará Grande se consolidou, e aí mais uma vez ou os artistas nômades voltam aos seus postos de viajantes do mundo, ou deverão seguir forjando oásis no meio do deserto a partir dos encontros e dos espaços mutantes criados para abrigar utopias.

Referências bibliográficas:
FROTA, Eduardo. Arte BRA Eduardo Frota. Rio de Janeiro: Automática, 2014.
DE PAULA, Sebastião.  Uma Trajetória da Xilogravura no Ceará. Belo Horizonte: Escola de Belas Artes UFMG, tese de doutorado sob orientação da Profa. Dra. Maria do Carmo Freitas Venoso, 2014.