Maranhão

SOBRE O MARANHÃO
Thiago Martins de Melo

Essa breve análise se limita especificamente à produção emergente em artes visuais na cidade de São Luís entre os anos de 2015 e 2016, não abrangendo outras localidades do estado do Maranhão.

As relações entre estado e estímulo à produção cultural são particularmente problemáticas no Maranhão. Por muito tempo e ainda hoje as políticas culturais tanto a nível estatal e municipal se focaram em grupos de cultura popular que representavam grandes coletividades, como escolas de samba, e coletividades de Bumba-meu-boi, fomentando um fisiologismo venal entre agentes políticos locais e compra de apoio político. O paternalismo político e o fisiologismo são variáveis atuantes no campo das políticas voltadas à cultura no Maranhão e em sua capital.

O único museu dedicado às artes visuais, O Museu de Artes Visuais é uma extensão do Museu Histórico e Artístico do Maranhão. Ele permanece sem curadoria, sem um projeto museológico, com uma direção negligente, com uma reserva técnica quase inexistente e com casos de obras desaparecidas.

Em 2015 a Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão foi anexada à Secretaria de Estado de Turismo pelo governo estadual, gerando frustração por parte da classe artística, que foi majoritariamente apoiadora da candidatura do governador Flávio Dino em oposição ao candidato de campanha economicamente mais influente, o ex-senador da república (2003-2011) Edinho Lobão que é representante do grupo Sarney e seus aliados.  Esta fusão com uma Secretaria de Turismo e com a nomeação de um secretário incompetente no tocante às poucas políticas culturais fomentadas no estado, e a uma inoperante Secretaria Municipal de Cultura, fez recrudescer, naqueles que tinham esperança em mudanças nos rumos das quase inexistentes políticas culturais, um sentimento de distanciamento entre os agentes culturais e as instituições do estado. Com isso, um efeito colateral interessante aliado a múltiplas varáveis externas levou a proliferação de coletivos e grupos de artistas a buscarem ações independentes na cidade. Ocupações de casarões abandonados, ateliês coletivos, residências artísticas improvisadas, ações efêmeras e de de guerrilha com pixo, grafite, intervenções no urbanismo, sebos, brechós, exposições ao ar livre, veganismo, cultura queer, feminismo, anarquismo, bem viver e toda uma diversidade de ideologias libertárias e criativas perpassam o repertório desses agentes como energia livre e bruta.

Nesse recente caldo criativo pulsante, espaços autônomos e espaços intencionais como o Chão SLZ e o Re(o)cupa, que são voltados à cultura contemporânea, estão surgindo.

Abaixo a autodescrição de alguns espaços de premissas radicais em São Luís:

CHÃO SLZ
http://www.chaoslz.art.br/
http://abphy.com/user/chaoslz
https://www.facebook.com/chao.slz

“Experimentalmente voltado às práticas de formação não convencional, Chão surge da intenção de se irradiar sentido em um ambiente propício para o diálogo e os processos elásticos de ampliação e troca direta de conhecimentos com o público, universidades, espaços independentes afins, instituições parceiras e manifestações do entorno – acerca da pesquisa no contexto da cultura visual.

Como projeto, Chão baseia-se nas ações espontâneas de sua rede de contatos bastante consolidada e na hipótese de existência de um novo terreno de atuação crítica junto a vida coletiva, desejando apresentar um formato de programação continuamente alternada, contemplando todas as faixas etárias, e que inclua: conferências, debates, cursos e oficinas, exposições, mostras de filmes e vídeos, performances, música e dança, encontros com comida, festas, residências, expedições, publicações impressas e online.

Localizado no centro histórico de São Luís do Maranhão, Chão tem sua sede em um casarão do fim do século XVIII, região tombada pelo IPHAN em 1974 e reconhecida como Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco em 1997.
Fundado em 2015 por um grupo de artistas, curadores e gestores, atualmente é coordenado por Samantha Moreira (do Ateliê Aberto de Campinas), pelos artistas e gestores maranhenses Camila Grimaldi, Dinho Araújo e Thiago Martins de Melo e Marcio Harum (curador de artes visuais do Centro Cultural São Paulo).

Guilherme Fogagnoli (vj, dj, produtor e cozinheiro) foi um dos fundadores e fundamental para o primeiro ano do Chão. Miguel San Martin (produtor audiovisual) e Henrique Lukas (produtor) também participaram da primeira temporada.

Alguns programas e estratégias já existentes:

Residências
Convidados, convocatórias abertas e parcerias.
Artistas, curadores, pesquisadores, escritores, sociólogos, antropólogos, pensadores, críticos, jornalistas, gestores em cultura, articuladores etc.

Mesa branca – conversas abertas.
Ciclo de conversas e encontros abertos ao público, com residentes, artistas, pensadores, pesquisadores, curadores, críticos, sociólogos, antropólogos, jornalistas, estudantes, movimentos sociais, instituições, organizações, pessoas interessantes – com o desejo de trocar experiências, conhecimento, ideias, aproximações, intercâmbios, articulações e práticas públicas.

Cine Jibóia – mostras audiovisuais
É costume no Maranhão ter uma jibóia no sótão para manter o controle de pragas. No casarão do CHÃO alguns dos relatos sobre sótão giram em torno da jibóia que era criada pelos moradores da casa.

Assim o nome do espaço no sótão para sessões e mostras de cinema e vídeo leva o nome de Cine Jibóia. Os residentes e convidados podem realizar sessões no Cine Jibóia, sendo uma mostra de trabalhos autorais, uma curadoria que parta do seu repertório de artistas, do que gosta, do que pretende pesquisar etc.

Ocupa Forno
Encontros abertos de gastronomia em torno do forno de barro artesanal construído no Chão para abrigar com experiências degustativas.

Estamparia e gráfica
Lugar para produção gráfica em papel, tecido e outros materiais de pesquisa sustentável, de produção do Chão e de parceiros.

Cervejas Chão SLZ
Em parceria com a Cervejaria Dagóia, o Chão vem pesquisando cervejas próprias. A primeira foi lançada em fevereiro de 2016. Assim como as comidas, a feitura de uma cerveja pode dialogar com cada Programa.

MICRO E MACRO
Ações desenvolvidas no entorno, nos arredores do Chão, junto à vizinhança, ao comercio local, mercado central, camelódromo, Fonte das Pedras, Museu Histórico e Artístico do Maranhão, comunidades indígenas e quilombolas, movimentos sociais, universidades (UFMA, IFMA E UEMA), escolas, núcleos de arte e cultura, Galeria Trapiche (Secretaria Municipal de Cultura), SESC, instituições do Estado do Maranhão, bares e outros espaços independentes”.

Re(O)cupa(2)
https://www.facebook.com/reocupa

“Resistência Cultural Upaon Açu – Re(o)cupa

Centro: ponto comum às retas de um feixe de retas.

Multicultural: que provém de diversas culturas….

Re(o)cupa vem fincar sonhos, possibilidades, inquietações, ocupações, manifestações no coração amargo, antigo, judiado (mas ainda pulsante) da Ilha de Upaon Açu. Centro histórico de poucos donos que a ganância e a concentração de poder o deteriorou. Mas assim como a cidade é das pessoas e as ruas foram feitas para dançar, regressamos juntos a esse espaço de ruelas e paredes grossas, buscando entendimento e percepção na origem, no início, para que colaborativamente possamos pensar ações de cultivo e preservação desse espaço único, belo e vibrante.
Re(o)cupa te tira pra dançar, pede licença para todos os povos que aqui lutaram por liberdade e igualdade e finca sua bandeira convocando a todos que não estão satisfeitos com uma cidade com grades, suja e ruas vazias para bailar, pensar, cuidar, ocupar, discutir e viabilizar uma cidade melhor.

Um Centro Cultural que se estende por ruas, ruelas, becos e praças. Que é meu, é seu e é de todos que entendem que a felicidade não vêm embalada numa linda caixa, que a cidade é das pessoas e não dos carros e que todo governo administra, dialoga e constrói, mas não é dono dessa cidade/povo.
Sonho que surge perante pesadelos, sabendo que revisitando a ancestralidade achará na união do povo o caminho livre para o amor. Economia criativa, trocas de sabedorias, respeito a todos os seres e toda diversidade cultural que nossos corações e cérebros poderem nos levar.

Manifesto Re(o)cupa – Resistência Cultural Upaon Açu”.

Sebo no Chão
https://www.facebook.com/sebonochao

“Fundado no mês de Abril de 2013 no bairro do Cohatrac, Tem como objetivo reunir a galera que curte literatura, música, cinema e arte de uma maneira geral.
Todo o Domingo depois do pôr-do-sol rola na Praça Nossa Senhora de Nazaré, com troca e venda de livros, rango vegetariano, malabares, música autoral, e interação através de discussões sobre os mais variados temas”.

 

Espaços institucionais e suas ações:

NUPPI
https://www.facebook.com/ColetivoNUPPI/

“O Núcleo de Pesquisa e Produção de Imagem (NUPPI) integra o Campus Centro Histórico do Instituto Federal do Maranhão (IF-MA) onde desenvolve estudos teóricos e práticos sobre imagem através de duas linhas de pesquisa, “Imagem e Mediações Sociais” e “Estética da Imagem e Poéticas Contemporâneas”.
Desde 2007, ano de sua fundação, o Núcleo de Pesquisa e Produção de Imagem (NUPPI) tem como um de seus princípios o estímulo ao diálogo entre pesquisadores, artistas e sociedade. À época éramos um Núcleo de Pesquisa ligado ao curso de Comunicação Social da UFMA e a partir do ano de 2010, o NUPPI passou a ser oficializado junto ao Instituto Federal do Maranhão – Campus Centro Histórico.

O Núcleo conta hoje com uma equipe de 8 pesquisadores, sendo: um pós-doutorando (Marcus Ramúsyo de Almeida Brasil), cinco doutorandos (José Almir Valente Costa Filho, Jane Cleide de Sousa Maciel, Denise Bogéa Soares, Carolina Guerra Libério e Bruno Soares Ferreira), uma mestra (Francisca Rosemary Ferreira de Carvalho), um técnico em fotografia (Carlos Eduardo Cordeiro) e três alunos de iniciação científica ligados a projetos de pesquisa”.

O Nuppi é responsável por boa articulação e intercâmbio entre São Luís e outras instituições, artistas, pesquisadores e tem uma atuação interessante do coletivo de professores junto aos alunos.

Galeria Trapiche
https://www.facebook.com/trapichegaleria/

Vinculada à secretaria Municipal de Cultura através da Fundação Municipal de Cultura – FUNC. Em meados de 2016, Camila Grimaldi assume a coordenação da galeria e reativa diferentes atividades formativas, discussões, cursos, conversas, parcerias, criando um novo período para a galeria. Responsável pela realização e local onde ocorre o Salão de Artes Visuais de São Luís. Na sua VI edição a premiação foi de R$ 15 mil reais à obra vencedora em primeiro lugar e de R$ 7 mil reais para as obras classificadas do 2º ao 5º lugar, mas somente para artistas locais. Pela primeira vez abriu um Prêmio Residência, que aconteceu no JA.CA (Minas Gerais). Hoje a tentativa da coordenação da Trapiche é abrir o edital para a participação de artistas nacionais e não somente locais, mas existe resistência da classe artística local.

O local necessita de reelaboração do espaço expositivo (pintura, iluminação, teto, piso etc), tem dificuldades cotidianas, sem verba para manutenção e sem planejamento anual.

SESC- São Luís
http://www.sescma.com.br/

Atua com programação da rede SESC Nacional e com projetos locais. Possui duas galerias ligadas aos espaços do SESC na cidade e atua em diferentes espaços, sendo um dos grandes financiadores de ações no estado. Dentre suas atividades ligadas às artes visuais, abre a cada ano um edital de ocupação de suas duas unidades em São Luís, porém com uma verba curta para execução dos projetos. Um dos principais eventos é a Aldeia SESC Guajajara das Artes, que durante uma semana atua em diferentes locais e desde o ano passado abriu para projetos experimentais como residências artísticas e intervenções urbanas.

Galeria DAC-UFMA
http://portais.ufma.br/PortalUfma/paginas/noticias/noticia.jsf?id=48815

Com uma nova sede no Centro Histórico de São Luís, recentemente inaugurada, é um espaço expositivo em reformulação e que foca na produção dos professores e  alunos do curso de artes visuais da UFMA.O Chão SLZ tem proposto algumas parcerias e alternativas para a abertura de editais de ocupação com artistas nacionais, residências, intercâmbios, mas ainda sem resultados efetivos. O curso de Artes Visuais hoje coordenado pela professora Regiane Caire, tem buscado ampliar atuações com um laboratório de extensão em gravura no novo espaço do DAC e algumas parcerias de estágios de alunos do curso com outros espaços da cidade.

MAVAM – Museu da Memória Áudio Visual do Maranhão
http://www.fundacaonagibhaickel.org.br/site

“Sediada na cidade de São Luís, capital do Estado do Maranhão, a Fundação Nagib Haickel – FNH foi criada em 1998 com a missão de promover a educação e a cultura, preservar a memória e valorizar nosso patrimônio tangível e intangível. Por sua consistente atuação e permanente compromisso de favorecer o acesso ao conhecimento e educar para sedimentação dos valores de cidadania, a Fundação Nagib Haickel foi reconhecida como Entidade de Utilidade Pública , a nível Estadual e Municipal, estando registrada junto ao Conselho Nacional de Assistência Social CNAS. Resposável pela Implantação da TV Guarnicê do Maranhão – TVG através das emissoras de TV Educativa de São Luis e de Imperatriz (MA) e restauro do prédio da antiga Companhia de Navegação Jaracati para instalação do Museu da Memória Áudio Visual do Maranhão – MAVAM.

Beto Matuck e o MAVAM tem feito o registro da produção de artistas visuais do Maranhão entre clássicos, modernos e contemporâneos, vivos ou falecidos. Com entrevistas e relatos em vídeo que são disponibilizados na internet através do site do Museu e de sites de compartilhamento de vídeos como Youtube e Vimeo. Atuam na cidade como articuladores entre a produção atual e memoria do estado do Maranhão, possuem um rico acervo e arquivo, com equipe de trabalho adequada e verba

Museu Histórico e Artístico do Maranhão
http://www.cultura.ma.gov.br/portal/mham/index.php?page=historico

O museu é uma casa de época que abriga relíquias da nobreza que habitava a capital maranhense, localizado no centro de São Luis, num solar do século XIX.Desde 2016, com nova coordenação, de Carolla Ramos, o Museu abre um anexo para exposições e projetos temporários, apresentações de performances, música, teatro, e ações formativas. Vinculado ao Governo do Estado, enfrenta dificuldades de planejamento, verba e ações que ampliem as possibilidades e atuações do museu.

Especificamente, no caso do CHÃO, local de atuação em que pessoalmente estou inserido, alguns projetos tem sido feitos em colaboração com a Secretaria de Ciência do Estado do Maranhão. O fato de nesta secretaria possuir 2 agentes interessados em cultura contemporânea e seus desdobramentos em relação às novas mídias e tecnologias nos propiciou colaboração nesse entrecruzamento.

 

ARTISTAS
Na cena recente dos 2 últimos anos alguns artistas merecem destaque, entre eles Layo Bulhão e Ton Bezerra que trabalham com performance, intervenções e vídeo; o pintor Thiago Azevedo; Ramusyo Brasil que é fotógrafo, cineasta e videoartista com interesse em experimentações em vídeo-performance e vídeo-instalações; Carolina Libério, Gê Viana e Dinho Araujo que trabalham com, lambe, pixo, fotografia,vídeo e intervenção urbana. Marcio Vasconcelos, fotografo renomado e com projetos bastante maduros, acaba de lançar o projeto que engloba vídeo, livro e performances acerca do “Poema Sujo” de Ferreira Gullar.

Marcio Vasconcelos
http://www.marciovasconcelos.com.br/
http://www.visoesdeumpoemasujo.com.br/bio.php

Layo Bulhão
https://blogdolayo.com/

Ton Bezerra
http://artetonbezerra.blogspot.com.br/

Thiago Azevedo

Ramusyo Brasil
ramusyobrasil.wix.com/site

Gê Viana
https://geviana.carbonmade.com/

Dinho Araújo

Carolina Libério